sexta-feira, outubro 20, 2006

Refletindo Piaget

Parafraseando Piaget(1979), a inteligência não principia, pois, pelo conhecimento do eu nem pelo das coisas como tais, mas pelo da sua interação e é orientando-se simultaneamente para os dois pólos dessa interação que a inteligência organiza o mundo, organizandose a si própria".
O mundo, para a criança, é, ao mesmo tempo, definido e limitado pelos seus esquemas. Seus esquemas, isto é, suas ações constituem o seu mundo, sua realidade.
As ações da criança constituem, cada vez mais, uma rede de classes e relações inicialmente prática, e, posteriormente, cada vez mais simbólica.
Cada objeto que "cai" é assimilado nessa rede passa a fazer parte de uma totalidade organizada, totalidade que se reorganiza em função do novo objeto a ela assimilado.Os objetos não são desde o começo ou desde sempre; isto é, não existem desde o início de forma acabada, mas são na medida em que forem assimilados a essa rede; ou seja, na medida em que a criança os constitui como significantes.
Conhecer um objeto é situá-lo num emaranhado de classes e relações. Conhecer mais, significa desenvolver, qualitativa e quantitativamente esse emaranhado.
Conhecer um objeto é, portanto, assimilá-lo a um universo lógicomatemático a um universo de classes e relações cada vez mais abstrato, formado de estruturas cada vez mais abrangentes e cada vez menos "coladas" ao concreto.
O processo de desenvolvimento do ser humano é explicado por Piaget como, fundamentalmente, um processo de construção lógicomatemática de complexidade crescente. Isto não significa que, para ele, o ser humano não tenha sentimentos, emoções, não ame, não odeie como, frequentemente, se ouve dizer até por outros autores. Significa que também as emoções, sentimentos, amores são matematizados.
Observando um bebê de oito a nove meses, por exemplo, facilmente percebemos que este passa a admitir, por volta dessa idade, a existência de um objeto fora do seu quadro perceptivo.
Se escondemos um objeto com o qual ele estava brincando, ele remove o obstáculo para encontrar o objeto que desapareceu de seu quadro perceptivo.
Antes dessa idade, ele recolhia as mãozinhas "entendendo" que o objeto não mais existia. Agora o objeto desaparece e ele o procura. Isto significa que o objeto está em algum lugar que antes não existia.
Quando analisamos o vídeo da menina Alexandra, por exemplo, foi exatamente o que vimos. A criança admite, agora, que existe um espaço onde ficam os objetos enquanto ela não os percebe;isto é, o espaço é uma totalidade ou classe que contém os objetos enquanto ela não os percebe. A partir de agora a criança admite um espaço objetivo.Ela acaba, pois, de construir uma categoria fundamental do pensar: a categoria do objeto permanente e uma segunda categoria complementar dessa primeira: a categoria do espaço. Sem essas categorias não haverá conhecimento e o pensamento será impossível; não haverá linguagem.