terça-feira, dezembro 12, 2006

Violência e Tv


Países onde há grande quantidade de aparelhos de televisão têm também altos índices de homicídios. Estudos divulgados em uma das mais respeitadas publicações americanas de medicina, Journal of the American Medical Association, apontam que a criminalidade e as atitudes agressivas aumentam proporcionalmente ao número de televisores.
Segundo Valdemar Setzer, professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP, a violência é o conteúdo que mais se adapta à natureza da TV. Ele diz que o tema é muito exibido não porque as pessoas o preferem, mas porque é o mais simples de se assimilar. Quando se está assistindo à televisão, a capacidade de raciocínio está abafada. A imagem pisca cerca de 30 vezes por segundo, o que imobiliza os olhos. O som também é pontual e tem ruído característico, que permanece em freqüência estável. Além disso, o espectador geralmente está parado e o ambiente em penumbra. A pessoa é induzida a um estado de sonolência e tem o pensamento inibido.

“São características próximas a uma seção de hipnose”, afirma Setzer. “Um telespectador – especialmente se for uma criança, cuja expressão é mais maleável – tem cara de ‘bobo’, de alguém que não está pensando”, completa. Sobram, como canal de absorção de mensagens, os sentimentos primários. Esses são ativados, mas em situações totalmente artificiais, que não corres-pondem à realidade. A imagem e o som são grosseiros. A tela é bidimensional e pequena se comparada ao tamanho verdadeiro daquilo que está sendo transmitido. Se uma pessoa é focalizada de corpo inteiro, seus olhos e nariz tornam-se manchas. Desta forma, a única maneira de prender a atenção da pessoa é usar de recursos que atinjam os sentimentos com impacto. Imagens e movimentos sutis e delicados são quase imperceptíveis. Já cenas rápidas, repletas de luzes e sons agressivos, têm a tendência de manter a vigília do telespectador. Os temas violentos são os que mais se adequam a estas peculiaridades. “É por isso que os esportes rápidos e violentos e os desenhos animados repletos de socos, sangue e gritos são bastante transmitidos e apreciados”, diz Setzer. Para ele, as conseqüências são graves: “à medida que os espectadores acostumam-se a uma certa dose de vio-lência e excitação, é necessário aumentá-la para atrair sua atenção”. As pessoas, então, estão se tornando viciadas em violência.
Setzer afirma que ver televisão diariamente é muito ruim e que o aparelho não deve fazer parte do entretenimento diário da família. As crianças, principalmente, têm grande capacidade de assimilação. Essas cenas, portanto, ficarão registradas e provavelmente terão efeitos nocivos. “Atitudes grosseiras e reações violentas aos estímulos do cotidiano serão comuns nesses futuros adolescentes”, alerta o professor.